A Agência de Ecologia Urbana do Eixo Atlântico (Eixoecologia) nasce em Julho de 2009 por decisão da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular. Com sede na cidade lusa de Vila Real e na cidade galega de Santiago de Compostela, elabora estudos, desenvolve ferramentas de gestão que ajudem a repensar as cidades e o seu entorno em relação à sustentabilidade e assessoria em processos de diagnóstico e planificação sustentável, apresentando soluções que dão resposta aos desafios de sustentabilidade formulados. Além disso, também realiza atividades de formação especializadas, complementando-as com atividades divulgativas e de difusão. Mais sinteticamente, a Eixoecologia apoia a planificação estratégica sustentável à escala municipal, regional, provincial e euro regional, proporcionando um marco conceptual e instrumental adequado a territórios com uma distribuição da população caracterizada pela assimetria costa / interior, a dispersão em numerosos núcleos e as zonas de baixa densidade populacional, como são a Galicia e o Norte de Portugal.
O objetivo essencial é dar resposta a dois desafios principais que os sistemas urbanos enfrentam: a aproximação a um modelo de desenvolvimento mais sustentável e a entrada na sociedade do conhecimento e das novas tecnologias. Assim, através do projeto europeu DESOURB, a Eixoecologia pretende alcançar os referidos objetivos, ambos unificados na ideia de desenvolver um modelo inovador para a gestão sustentável da Eurorregião Galiza- Norte de Portugal.
Já no ano 2010, a Eixoecologia estabeleceu uma metodologia específica para a elaboração de planos de desenvolvimento local no marco das Agendas 21 Locais, especialmente adaptada às características territoriais, sociológicas e económicas da Eurorregião Galiza- Norte de Portugal. Esta metodologia mostra-se como uma ferramenta útil para o seguimento da sustentabilidade no âmbito local. A “Agenda 21 Local (A21L) ” é um documento estratégico considerado como tal porque parte de um modelo intencional que orienta as ações propostas com o objetivo de alcançar um modelo de desenvolvimento mais sustentável no âmbito territorial motivo de análise.
A Agenda 21 tem como ponto de partida a realização de um diagnóstico da situação atual do território em relação à gestão dos seus recursos ambientais, sociais e económicos. Os resultados obtidos neste diagnóstico permitem o estabelecimento de objetivos de sustentabilidade a alcançar através do desenvolvimento de Planos Estratégicos baseados na integração, com critérios sustentáveis, das políticas ambientais, económicas e sociais do território. É um processo participativo que integra representantes políticos, pessoal técnico, agentes implicados e cidadãos.
No marco do projeto Desourb, financiado com fundos europeus, pretende-se avançar no desenho de modelos de gestão sustentável do território e para isso foram definidos uma série de eixos de atuação associados a indicadores, partindo da experiência obtida com as metodologias previamente elaboradas.
Frente à necessidade de comprovar a aplicabilidade destes modelos, decidiu-se eleger dois municípios da Eurorregião, um galego e um português que permitissem analisar a viabilidade de elaboração dos indicadores propostos no modelo e as suas vantagens frente à própria metodologia da Agenda 21 local. Neste marco procedeu-se à elaboração dos indicadores dos novos modelos e dos contemplados na metodologia da Agenda 21 local. Na Galiza o município eleito para a aplicação do referido modelo foi Sarria.
Iniciou-se o processo de recopilação de informação cartográfica e alfanumérica do Município de Sarria necessária para o cálculo dos indicadores. O processo decorreu com normalidade excetuando a consecução de informação relativa ao consumo elétrico municipal, para o qual não havia disponibilidade de dados informatizados.
Sendo a eficiência energética no consumo e a utilização sinérgica das diferentes fontes de produção de energia, aspetos fundamentais a considerar no desenvolvimento local sustentável procedeu-se à recolha das faturas necessárias para poder avançar na elaboração de um diagnóstico inicial da situação mediante a elaboração dos indicadores necessários para tal finalidade. Para isso foi necessário fazer um seguimento das faturas recebidas pelo município num período de tempo, o que permitiu conhecer e analisar as peculiaridades dos consumos.
O município recebe uma média de 370 faturas por mês da Unión Fenosa- Gas Natural, e sem uma análise técnica prévia que permita conhecer as características particulares dos consumos desses numerosos pontos de abastecimento (tarifa, potência...), arquivavam-se para ser posteriormente pagas. Frente a esta situação, a Eixoecologia decidiu aprofundar no estudo da faturação elétrica municipal.
A análise da faturação elétrica municipal é um estudo de apoio à Gestão Dinâmica de Instrumentos de Gestão do Território (GDIOT), no marco já falado de Desourb.
Este estudo consiste em realizar um seguimento da faturação elétrica dos consumos das dependências municipais a partir das faturas de Unión Fenosa- Gas natural recebidas pelo Município de Sarria entre Janeiro e Junho de 2010, com o objetivo de registrar as características dos pontos de abastecimento e propor medidas para a otimização dos consumos não sustentáveis e não eficientes.
A duração do trabalho foi de 3 meses, de 1 de Fevereiro a 1 de Maio de 2012, data em que se finalizou o estudo. Foram informatizadas cerca de 1500 faturas aproximadamente, obteve-se informação detalhada de 370 pontos de abastecimento, e propuseram-se medidas de otimização para 91 dos pontos de abastecimento.
À frente pode ver-se a metodologia utilizada no seguimento e otimização da faturação elétrica no Município de Sarria, a qual se baseou em informatizar as faturas correspondentes ao período de análise, selecionar as variáveis de interesse para o estudo (Código Universal do Ponto de Abastecimento, direção, período de leitura, leitura anterior, leitura atual, tipo de consumo, tarifa aplicada, potência faturada, consumo faturado, custo do consumo...), calcular o consumo total por mês e finalmente, aplicar as medidas de otimização que tinham sido definidas:
1. Otimização do tipo de tarifa aplicada a cada ponto de abastecimento (Alteração na tarifa contratada)
2. Otimização da potência contratada (Adequação da potência contratada)
3. Eliminação dos pontos de abastecimento que apresentam um histórico de faturação com consumo nulo ou praticamente nulo (Baixa do abastecimento).
4. Otimização da Discriminação Horária
5. Otimização do fator de potência (penalização por excesso de consumo de Energia Reativa)
6. Otimização por instalação de contador
7. Otimização do contrato com o comerciante de energia adequado.
Os resultados finais obtidos após a realização deste estudo foram os seguintes:
1. Consumo elétrico anual estimado de 2.369.274 kWh, o qual acarreta para o Município um custo estimado de 269.897 euros ao ano.
2. Com a aplicação das medidas de otimização da faturação elétrica assinaladas anteriormente estimou-se um potencial de poupança de 19%[1] sobre os pontos de abastecimento selecionados como sensíveis à otimização (91 CUPS), sendo necessário um investimento de 2.750 euros (para a correção do fator de potência mediante instalação de baterias de condensadores).
Resumo
- Foram informatizadas faturas correspondentes a 4 meses: Janeiro, Fevereiro, Março e Maio de 2010.
- Determinou-se que existem 370 pontos de abastecimento (com base na faturação desses meses)
- Analisaram-se as características de cada ponto de abastecimento e a sua adequação: consumo histórico nulo, tarifa aplicada, potência contratada, consumo de energia reativa...
- Com base na análise determinou-se que havia 91 pontos de abastecimento que deveriam ser otimizados mediante a aplicação de medidas corretivas: baixa de abastecimento (por ter consumo histórico nulo), redução ou aumento da potência contratada, adequação da tarifa contratada (discriminação horária) e correção do fator de potência.
SÍNTESE DE RESULTADOS DA OTIMIZAÇÃO |
CUSTO ELÉTRICO TOTAL ESTIMADO |
CUSTO ELÉCTRICO PREVISTO DOS PONTOS OTIMIZÁVEIS |
POUPANÇA ESTIMADA |
PERCENTAGEM DE POUPANÇA ESTIMADA |
INVESTIMENTO A REALIZAR[2] |
(euros/ ano) |
(euros/ ano) |
(euros / ano) |
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269.897 |
122.373 |
28.763 |
19% |
2750 euros |
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[1]Percentagem de poupança estimada com base no relatório 22/2011 da CNE de 29 de Junho de 2011. Confirma-se que este potencial de poupança poderia ser superior se houvesse a certeza de que estão a ser revistos todos os pontos de abastecimento e tendo a possibilidade de ver os pontos de abastecimento in situ. |
[2]Para a instalação de baterias de condensadores para a correção do fator de potência. Este investimento tem um período de retorno de 1 mês. |
Com estes resultados, conclui-se que os municípios com características similares ao Município de Sarria, tamanho médio – pequeno, e habitualmente, sem recursos técnicos que permitam a realização de estudos de eficiência energética e sem capacidade para o seguimento das peculiaridades de seu uso, carecem de meios para a racionalização da contratação ou a faturação bem como da comprovação da realidade dos consumos.
Frente a esta situação ineficiente parece recomendável a realização de campanhas de sensibilização dirigidas às autoridades municipais com a finalidade de lhes transmitir a importância de destinar recursos para a realização de análise deste tipo, de rápido retorno económico e ambiental.
O financiamento para estes estudos de otimização, dado o seu baixo custo e alta rentabilidade, pode ser feito através de empréstimos a devolver com as economias derivadas das medidas tomadas. O estabelecimento de linhas de crédito específicas facilitaria, com a obrigação de colocar em marcha as conclusões e recomendações, um uso mais eficiente e sustentável da energia e dos recursos económicos municipais.